Sempre que a temperatura sobe, o nome de Bangu sobe junto nas pesquisas sobre calor e nos memes de caixa d’água derretendo. Mas nos últimos anos isso têm acontecido com menor intensidade. Agora, no final de 2023, o Brasil passa por recordes de máximas, mas aqui no Rio de Janeiro, os maiores registros são em Irajá e Guaratiba. Uns anos atrás isso acontecia na Vila Militar.
E Bangu? Deixou de ser tão quente quanto era na década de 1980? Afinal, qual o lugar mais quente do Rio agora? Vamos tentar responder a essas perguntas.
Onde fica o lugar mais quente do Rio de Janeiro?
Na onda de calor de novembro de 2023, o bairro de Guaratiba registrou a maior sensação térmica da cidade desde 2014: 58,2ºC na terça-feira, dia 14. Já a temperatura, foi maior em Irajá: 42,5ºC.
As máximas históricas no Rio de Janeiro foram um pouco maior que isso:
- 44,2ºC: registrado em 2008
- 43,2ºC em 2012
- 43,1ºC: registrado em 1984 em Bangu (onde não tem mais medição).
Já a algum tempo os bairros de Santa Cruz, Guaratiba, São Cristóvão e Irajá disputam a posição de lugar mais quente do Rio de Janeiro nas medições oficiais. (Veja a lista com os maiores registros de temperaturas)
O que faz de Irajá um bairro tão quente?
Irajá fica na Área de Planejamento 3, a mais densamente povoada da cidade. Além disso, da alta ocupação do solo, o local tem poucas áreas verdes. Esses fatores, geográficos e urbanísticos, fazem que com a região seja um grande bolsão de calor, típico das grandes cidades. A proximidade com a Avenida Brasil e a distância do litoral também ajudam a deixar o bairro ainda mais quente.
A na Zona Oeste? Por que Santa Cruz e Guaratiba são tão quentes?
Parte da explicação é semelhante ao que ocorre em Irajá. Os centros dos bairros também são bastante povoados, com muitas casas, muito asfalto e muito cimento. No entanto, como explicou a meteorologista Christiane Nascimento, do Alerta Rio, Guaratiba tem algumas características que elevam a sensação térmica no bairro:
A Zona Oeste recebe ventos predominantemente do Norte, que costumam ser mais quentes, o que aumenta a temperatura. Além disso, o bairro está próximo a um grande corpo hídrico, a Baía de Sepetiba. Os dois fatores juntos fazem com que a sensação térmica fique maior.
E Bangu ainda é muito quente?
A explicação para o calor tão alto em Bangu tem alguns elementos que você leu acima, como o bairro ser densamente povoado, mas há também a forte influência do relevo do entorno. Como é um bairro cercado de morros (não só Bangu, mas também Realengo e Padre Miguel), ocorre efeito específico na região.
Temos um texto explicando direitinho o calor de Bangu e o efeito Fohen aqui no blog.
No entanto, apesar de ainda ser muito quente, não há registro oficial da temperatura de Bangu desde 2004. Por isso não é mais comum ver o nome do bairro encabeçando as listas de lugares mais quentes.
No verão de 2021 houve mais um dos clássicos da TV brasileira na cobertura do calor. Em fevereiro, no auge do calor, o RJTV decidiu fazer uma competição ao vivo para verificar qual bairro estava mais quente no dia: Bangu ou Irajá.
O resultado é óbvio, deu Bangu, com 48,1º C.
Qual a explicação para a onda de calor de 2023
As altas temperaturas que afetam o Brasil estão relacionadas ao fenômeno El Niño, em desenvolvimento no oceano Pacífico Equatorial, próximo à costa peruana desde o último mês, conforme indica o ClimaTempo.
O El Niño está prejudicando a formação dos corredores de umidade, o que resulta na persistência de um ar mais quente sobre o território brasileiro, impedindo a interação entre o ar quente e o ar frio de origem polar, este último comumente associado às frentes frias no Brasil.
De acordo com Pegorim, do ClimaTempo, em entrevista ao Valor, o sistema de alta pressão está gerando um movimento de ar de cima para baixo, conhecido como movimento subsidente, provocando a descida do ar seco dos níveis superiores da atmosfera para a superfície.
Além do El Niño, a meteorologista ressalta que as altas temperaturas são influenciadas pelo cenário de aquecimento global, resultando numa atmosfera quente sem precedentes. Ela destaca os recordes consecutivos de calor no planeta, tanto na massa de ar quanto na temperatura dos oceanos, que estão alcançando níveis nunca antes observados.