Vista aérea do bairro de Bangu: bangu Shopping (antiga Fábrica Bangu) e ao fundo a Serra de Bangu

Bangu: conheça a história e as principais curiosidades do bairro

Bangu é frequentemente lembrado pelo calor intenso, pelo seu tradicional clube de futebol e pelo complexo penitenciário que, embora esteja situado em um bairro vizinho, ficou nacionalmente conhecido pelo nome de Bangu.

No entanto, por trás dessas associações populares, o bairro possui uma história rica e antiga no contexto do Rio de Janeiro. Sua origem remonta ao século XVII, quando era uma vasta fazenda produtora de café, algodão e cana-de-açúcar. Com o tempo, transformou-se no bairro populoso e vibrante que conhecemos hoje.



Nesse artigo, vamos passar ponto a ponto pelas histórias desse imenso e importante bairro carioca.

Fazenda Bangu, a jóia do sertão carioca

Para começar a entender a região de Bangu, é preciso voltar um pouco no tempo e entender que essa região fazia parte do que antigamente era chamado de Sertão Carioca. Essa é uma região da cidade que carece de registros históricos organizados, mesmo fazendo parte de uma cidade amplamente documentada como é o Rio de Janeiro.

Por conta disso, coube a pesquisadores locais a tarefa de reunir informações e organizar as narrativas sobre essa área. Paulo Victor Braga da Silva e Benevenuto Rovere Neto no livro Fazenda Bangu – A Jóia do Sertão Carioca, fizeram isso; entre outros estudiosos que também contribuíram para preservar essa memória.

De acordo com o que consta nos documentos organizados por eles, com o intuito de tornar produtiva as regiões mais afastadas, a área foi dividida em sesmarias. Inicialmente, o território onde hoje está localizado o bairro de Bangu fazia parte das terras de Campo Grande, que se estendiam desde Realengo até Paciência, no limite com a Fazenda dos Jesuítas — na região que hoje corresponde a Santa Cruz.

Não há registros precisos sobre quando exatamente a Fazenda Bangu se desmembrou do restante do território e passou a ser conhecida por esse nome. A primeira menção encontrada nos documentos da época, ainda recuperados, data de 1729, em um registro de batismo de Brites, uma das pessoas escravizadas que viviam na fazenda.

E esse nome, Bangu, o que significa bangu?

A origem do nome Bangu é uma das partes mais controversas da construção do bairro. Há muitas teorias, mas não é possível confirmar nenhuma delas.

A primeira é a de que Bangu tem como origem a palavra de origem africana banguê. Ela possui dois significados que podem ser relacionados ao sistema colonial:

  1. a primeira é que banguê é um recipiente feito de cipós trançados que eram usados para levar o bagaço de cana para a bagaceira;
  2. a segunda é de que banguê é também uma referência ao próprio engenho, mas de sistema antigo, movido à tração animal.
Banguê: artefato usado para transportar o bagaço da cana, que, de acordo com uma das teorias, seria a origem do nome do bairro de bangu

Outra possível origem da palavra Bangu também pode ser africana, da nação Banguela. Na época colonial havia diversas pessoas escravizadas que tinham origem banguela, inclusive na região da Fazenda Bangu. No entanto, não há nenhuma teoria que explique uma possível relação entre Bangu e Banguela. 

A terceira tese, também muito conhecida, é de origem indígena. Bangu, nesse caso, seria uma variação de utang-ú, que em Tupi significa barreira negra, anteparo escuro, cheio de sombras ou sombreado. A referência pode ser atribuída à Serra de Bangu, uma das montanhas mais altas do Rio de Janeiro.

E as expressões: “à bangu”, “à moda bangu”, “bangu virou” e “abalou bangu”?

O nome bangu não é conhecido apenas pelo calor e pelo time de futebol. Curiosamente, existem algumas expressões conhecidas que levam o nome do bairro.

Origem e significado de “a moda bangu”

As expressões “a bangu” e “à moda bangu” carregam um significado pejorativo. Usá-las equivale a dizer que algo foi feito de qualquer jeito, de forma desorganizada ou mal feita.

Como acontece com muitas expressões antigas, suas origens não são totalmente claras. No entanto, a explicação mais aceita está ligada ao futebol e às gírias típicas desse universo. Isso faz bastante sentido quando consideramos a história do futebol em Bangu, tema que abordaremos mais adiante neste texto.

A origem da expressão também pode estar relacionada a estigmas sociais. Bangu é um bairro marcado por sua população majoritariamente pobre e de origem operária. Nesse contexto, tanto o bairro quanto o futebol praticado ali passaram a ser associados, de maneira preconceituosa, à ideia de desorganização ou má qualidade. Assim, a expressão “a bangu” pode carregar uma carga discriminatória ao reforçar esse estigma.

um excelente texto sobre esse assunto, que eu recomendo caso você queira entender mais sobre essa tese.

Origem e significado da expressão “abalou bangu”

Já a expressão “abalou bangu”, com sentido positivo, pode ter surgido por conta de uma grande explosão em um paiol de pólvora que ocorreu em Deodoro, também bairro da Zona Oeste.

A explosão foi tão intensa que foi notícia nos jornais no dia seguinte e ficou conhecida por abalar de Deodoro até Bangu, ou melhor, abalar até Bangu, o que com o tempo virou “abalar Bangu”.

A frase “Abalou Bangu” também já esteve na TV. O falecido ator Luiz Carlos de Castro Tourinho usava a frase com o personagem Edilberto, o desastrado assistente de Uálber Cañedo (Diogo Vilela), na novela Suave Veneno, em 1999.

À direita, o ator Luiz Carlos de Castro Tourinho, que na pele do personagem Edilberto, ficou conhecido pelo bordão "abalou Bangu". Ao seu lado, o ator Diego Vilela, que interpretava o personagem Uálber.

Apesar de vir de uma situação bem tensa, a expressão “abalou Bangu”, segundo pesquisadores e usuários da mesma, quer dizer que alguém fez bonito, arrasou, mandou bem.

Origem e significado de “bangu virou”

A expressão “Bangu virou” surgiu com a cantora e apresentadora Jojo Todynho durante o reality show A Fazenda, da Rede Record. Jojo nasceu em Bangu e criou o bordão durante sua participação no programa.

Fábrica Bangu: a indústria como motor de urbanização

A Companhia Progresso Industrial do Brasil — mais conhecida como Fábrica Bangu — foi fundada em 6 de fevereiro de 1889 e desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da região, transformando-a em um bairro tipicamente urbano.

Durante um período, a Fábrica Bangu foi a maior e mais moderna unidade industrial do Rio de Janeiro. Produzia algodão de fibra longa, considerado um dos melhores do mundo. Sua instalação na região só foi possível após a construção do ramal ferroviário que ligava o centro do Rio à Santa Cruz — o mesmo trem que passa por cima do Buraco do Faim. Esse foi um marco da transição da antiga zona rural do Rio para o que hoje conhecemos como Zona Oeste.

A influência da Fábrica no surgimento do bairro de Bangu

A atuação da Companhia Progresso Industrial moldou o crescimento de Bangu até meados dos anos 1960. Inicialmente, a empresa manteve algumas atividades agrícolas remanescentes da antiga Fazenda Bangu. Em seguida, passou a direcionar parte da produção para suprir a demanda da própria fábrica, como o cultivo de algodão, e mais tarde, investiu em políticas de moradia para os trabalhadores.

Essa terceira etapa incluiu a construção de uma vila operária, seguida pela ampliação e modernização das áreas residenciais, com arrendamento de lotes para produtores e funcionários. Entre 1910 e 1920, com o aumento da demanda por mão de obra, os arrendamentos foram ainda mais incentivados.

No entanto, por volta da década de 1930, a grande concentração de terras nas mãos da Fábrica passou a ser vista como um obstáculo para o crescimento da cidade, que precisava de mais espaço para abrigar sua população. Como resposta, novos projetos de loteamento começaram a surgir, e a empresa chegou a criar seu próprio Departamento Territorial para planejar e organizar essas divisões.

Legado urbanístico e cultural

Toda essa influência está documentada no trabalho do pesquisador Márcio Piñon de Oliveira, intitulado Quando a fábrica cria o bairro. Nele, fica claro como o desenvolvimento urbano de Bangu está diretamente atrelado à atuação da Companhia.

Diversas instituições e espaços importantes da região também têm origem ligada à fábrica, como o Bangu Atlético Clube, a Unidos de Bangu e a Piscina do Bangu. Parte da infraestrutura urbana, como a rede de esgoto no centro do bairro e a instalação de iluminação pública, também foi implantada por iniciativa da Companhia.

Diferente de outras fábricas têxteis do Rio de Janeiro — que se localizavam em áreas periféricas do então Distrito Federal —, a Fábrica Bangu foi instalada em uma zona rural. Por isso, teve que criar sua própria estrutura urbana, incluindo a vila operária, para sustentar seu funcionamento e sua comunidade.

Imagem do bairro de Bangu no início do século XX. Ao fundo, a Fábrica Bangu.

O Bangu Shopping

Em 2000, o prédio da Fábrica Bangu foi tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Esse marco foi uma mostra de sua importância, não só para o bairro de Bangu como também para toda a cidade do Rio de Janeiro.

Com o passar das décadas, as atividades da fábrica foram desacelerando, outros empreendimentos foram se instalando na região e a influência da fábrica diminuindo. Em 5 de fevereiro de 2004, a fábrica encerra suas atividades e o bairro deixa sua função fabril para assumir-se como um bairro comercial e residencial.

O Shopping veio em seguida, em 2007, e mantém toda a estrutura tombada pelo Iphan. Além da estrutura física, também há no empreendimento, uma constante preocupação em preservar parte da memória local.

Em 2010, o shopping realizou a exposição “Bangu Exportando Moda”, localizada na praça de alimentação do estabelecimento, contando sobre a ligação da antiga fábrica com a moda brasileira no século passado.

No dia 05 de junho de 2014, a estátua do escocês Thomas Donohoe foi inaugurada no estacionamento do Bangu Shopping, projeto previsto para ser concretizado entre o final de 2013 e início de 2014.

O surgimento do Bangu Atlético Clube

O Bangu teve origem junto com a Fábrica Bangu em 6 de fevereiro de 1889, mas embora já fosse praticado o esporte desde este tempo, o clube só viria a ser fundado oficialmente em 17 de abril de 1904. O clube utiliza as cores branca e vermelha, o que lhe dá a alcunha de alvirrubro. Manda seus jogos no Estádio Proletário Guilherme da Silveira, mais conhecido como Moça Bonita

É um dos clubes mais tradicionais do futebol do Rio de Janeiro, com 103 participações no Campeonato Carioca, sendo o quinto clube que mais participou da primeira divisão.

O Bangu possui quarenta e quatro troféus de campeão e mais dezenove de vice-campeão no futebol profissional em geral, sendo treze títulos internacionais, dois deles oficiais. É o décimo segundo clube brasileiro com mais partidas internacionais. Participou uma vez da Taça Libertadores da América em 1986. Foi Vice-campeão Brasileiro (série A) em 1985 e terceiro colocado em 1987. Foi vinte e seis vezes semifinalista do Campeonato Carioca, sendo sete vezes finalista, incluindo quatro finais seguidas. 

Castor de Andrade

Castor de Andrade é até hoje o mais famoso bicheiro brasileiro.[1] Era considerado um “bicheiro romântico”, já que não permitia que outros negócios ilícitos, como o tráfico de drogas, fossem explorados junto com o jogo do bicho. No auge de seus negócios, Castor de Andrade contou com mais de 100 policiais e vários servidores públicos, políticos proeminentes e juízes trabalhando para ele. Em meados dos anos de 1980, foi listado como segundo Homem mais rico do Brasil.[2][3]

Castor foi presidente de honra e grande financiador do Bangu Atlético Clube, sendo o grande responsável pela conquista do título de campeão carioca de futebol de 1966 (quando seu pai, Sr. Euzébio Gonçalves de Andrade e Silva presidia o clube) e pelo vice-campeonato brasileiro de 1985, quando perdeu o campeonato para o Coritiba, que foi o campeão brasileiro após histórica decisão por pênaltis no Maracanã.

No fim da tarde de 11 de abril de 1997, desrespeitando pela enésima vez a ordem judicial, jogava cartas na casa de um amigo, no Leblon, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante, que o matou. Seu corpo foi velado na quadra da Mocidade. No carnaval de 1998, público e foliões presentes ao sambódromo fizeram um minuto de silêncio em sua homenagem.

Pouco antes de morrer, o chefão da contravenção carioca dividiu seu espólio em duas partes: o filho Paulo de Andrade tomaria conta do jogo do bicho, enquanto o genro Fernando Ignácio ficaria com os caça-níqueis e o videopôquer.[15]

Bangu: o segundo bairro mais populoso do Brasil

Há bairros maiores que muitas cidades. O campeão brasileiro em população é Campo Grande, no Rio de Janeiro, com 336.484 pessoas distribuídas por 104,9 km². A capital fluminense também abriga o segundo bairro mais populoso: Bangu, onde vivem 249.133  em uma área de 37,8.

Um estudo da Geofusion buscou entender onde estão esses “mares de gente”, em que a população brasileira está concentrada. Os bairros considerados são os oficiais, criados pelas prefeituras para a administração dos municípios.

Leia também:

Quais são os maiores bairros do Rio de Janeiro em extensão territorial?

Previsão do tempo de Bangu

Caio Chagas de Assis

Sou jornalista e banguense. Nesse blog, tenho como objetivo escrever e organizar informações na internet sobre o bairro de Bangu e a região da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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